Tem muito tucano e até algum petista dizendo que, depois, bem depois de Lula, quem saiu fortalecido dessas eleições foi Aécio Neves. Se eles acreditam nisto, então perderam de pouco. Se o PSDB der mais espaço para Aécio, então é melhor que se funda com o PT logo de uma vez. Os números mostram claramente que Aécio fez corpo mole. Sim, colocando a coisa às claras, como as coisas devem ser colocadas, a verdade é que Aécio mal se mexeu para ajudar a vitória do PSDB. Isto ou é uma duma incompetência atroz.
Aécio foi candidato ao Senado. Ganhou mais de 7,5 milhões de votos. Serra levou em Minas Gerais apenas 4,4 milhões. Se Aécio é incapaz de convencer seus eleitores que seu aliado é um bom candidato, como pode se esperar que ele seja capaz de convencer eleitores de outros partidos de que ele próprio é um bom candidato? Se entre convertidos ele não conseguiu apoio suficiente, o que tirará de votos dos adversários?
Vejamos o que é que andou acontecendo nos estados em que Serra ganhou mais votos que Dilma.
Comecemos pelo emblemático Paraná. O PMDB, aliado de Lula, governou o estado por 8 anos. O governador Requião, apoiador de primeira hora de Lula, saiu da cadeira para se lançar ao Senado. Foi eleito com 2,6 milhões de votos, de um total de 7,6 milhões. A outra vaga ao Senado ficou com a petista Gleisi Hoffman, que conseguiu 3,1 milhões de votos. Vejam o tamanho da força vermelha em ação. Mas… O tucano Gustavo Fruet conseguiu 2,5 milhões de votos para o Senado, lembrando que a soma passa o total de eleitores por se tratar de duas vagas. Ficou no lugar de Requião o vice, Orlando Pessuti, do PDT, que também é base aliada de Lula. Tem mais. Polarizaram a disputa dois candidatos tão fortes que se criou uma situação insólita por lá: ganhasse quem ganhasse, não haveria segundo turno, porque a soma dos pequenos candidatos era simplesmente desprezível e não influenciava em nada. Osmar Dias, do PDT, ficou em segundo com 2,6 milhões de votos. Beto Richa, o tucano vencedor, ficou com 3 milhões de votos. Então, os tucanos tiveram 3 milhões de votos para governador. No primeiro turno Serra teve 2,6 milhões de votos e no segundo levou 3,2 milhões. Ou seja, no Paraná, Serra teve mais votos do que o próprio governador eleito, que é tucano também. E tem o mais emblemático ainda caso da cidade de Londrina, a segunda maior do estado: a prefeitura é do PDT mas Serra teve incríveis 75% dos votos. 75%. A campanha tucana foi eficiente no Paraná, simples assim. No Paraná, o tucano vencedor conseguiu mais votos para Serra do que para si mesmo. Bem diferente de Aécio.
Em Goiás existem pouco mais de 4 milhões de eleitores. Marconi Perillo, o tucano inventor do Bolsa Família, foi eleito no segundo turno com 1,55 milhões de votos. Serra teve 1,49 milhões de votos, praticamente a mesma coisa. Quase 100% dos eleitores de Perillo votaram em Serra.
Santa Catarina também torna vergonhosa a situação de Aécio Neves. Serra teve pouco mais de 2 milhões de votos de um total de 4,5 milhões. Dilma levou 1,55 milhões. Ganhou a cadeira de governador o DEMonía, ops, DEMocrata, Raimundo Colombo, com 1,8 milhões de votos. Outro estado em que Serra teve mais votos do que seu aliado candidato.
No Rio grande do Sul, o milenar petista Tarso Genro ganhou a parada com 3,4 milhões de votos. Ficou em segundo Fogaça, do PMDB de Lula, com 1,5 milhões de votos. Somando dá o seguinte: a base aliada de Lula ficou com mais de 4 milhões de votos de um total de 8,1 milhões. Mesmo assim, a tucana Yeda Crusius, que ficou em terceiro com 1,15 milhões de votos, ajudou Serra a conseguir 3,23 milhões de votos. Mais um estado no qual o tucano presidenciável teve mais votos que o aliado candidato local.
No Espírito Santo a mesma história. Luiz Casagrande, do PSB de Lula, levou 1,5 milhões de votos de um total de 2,5 milhões. O tucano Luiz Paulo teve meros 282 mil votos. Mas Serra conseguiu 955 mil votos.
Mato Grosso do Sul. Mais vergonha para Aécio. A base aliada de Lula levou todos, prestem atenção nisto, todos os votos válidos para governador. Foi eleito André Puccineli, com 704 mil votos de um total de 1,7 milhões. Concorreu com Zeca do PT (é o nome dele mesmo) e com o PSOLista Nei Braga (nada a ver com mui antigo governador do Paraná, já falecido). Para o Senado, nada muito diferente. O petista Delcídio ficou com 826 mil votos e o peemedebista Moka (sem “s”) outros 544 mil. O tucano Murilo Zauith conseguiu 512 mil. Serra teve 682 mil votos, bem mais que o candidato tucano mais forte.
E no Mato Grosso, mesma coisa. Caraca, tá feia a coisa pro Aécio. Num universo de 2 milhões de eleitores, o PMDB conseguiu 759 mil para o governo, elegendo Silval Barbosa. Em segundo ficou Mauro Mendes do PSB, outro da base lulista. O tucano Wilson Santos ficou com 245 mil votos. Serra? 762 mil votos.
Região Norte. Rondônia. Confúcio Moura, do PMDB, ganhou o governo com 422 mil votos. João Cahulla, do PPS, ficou com 297 mil de possíveis 1 milhão. E Serra conseguiu 385 mil. De novo, o aliado local de Serra teve menos votos que ele próprio. Colocando de outro modo: de novo o aliado local ajudou Serra a ter mais votos que ele próprio.
Acre. Berço de Marina Silva. 470 mil eleitores no total. Elegeu-se governador Tião Viana, petista, com 170 mil votos. O tucano Tião Bocalom ficou com 165 mil. E Serra ganhou 3 patinhos na lagoa: 222 mil votos.
A vergonha de Aécio não acaba aí. Roraima. O tucano Anchieta enfiou-se na cadeira de governador com 107 mil votos dum mar de 271 mil. Já Serra pescou 141 mil votos. De novo Serra teve mais votos que o tucano local.
E agora uma rápida olhada nos estados em que Dilma ganhou. No Amapá. Lucas, do PTB, teve 146 mil votos e não levou. Serra teve 118 mil. No Pará Simão Jatene, tucano, perdeu e teve 1,8 milhões de votos e Serra 1,5 milhões. Nas Alagoas, tucano Teotônio Vilela ganhou com 712 mil votos e Serra 637 mil. Na Bahia, Serra teve 1,9 milhões de votos e o DEMocrata Paulo Souto ficou com 1 milhão, terminando em segundo. No Ceará, Marcelo Cals, PSDB, não levou mas conseguiu 775 mil votos e Serra 962 mil. Na fazenda de Sarney, o Maranhão, o tucano mais expressivo foi Roberto Rocha para o Senado, levando 642 mil votos, enquanto Serra ficou com 606 mil. Na Paraíba, o aliado mais forte foi Efraim Moraes, DEM, que tentou sem sucesso o Senado e catou 692 mil votos, enquanto Serra teve 767 mil. No Pernambuco, um para diminuir a vergonha de Aécio, o petebista Armando Monteiro ficou com 3,1 milhões de votos e Serra 1,1, só que para o governo não havia um só aliado de Serra concorrendo, só deu PMDB, PSB e PV, nem o PTB entrou. No Piauí, o tucano Silvio Mendes ficou em segundo na corrida ao governo com 642 mil votos, Serra levou 477 mil. No Rio Grande do Norte, a DEMocrata Rosalba Ciarlini pôs a mão na taça do governo com 813 mil votos, Serra teve 655 mil. Em Sergipe o DEMocrata João Alves (não, não é o das loterias) concorreu ao governo e ganhou o segundo lugar com 466 mil votos, Serra teve 493 mil. No Rio de Janeiro, o aliado mais forte era César Maia, DEM, que falhou na corrida ao Senado e ficou com 1,6 milhões de votos; Serra teve 3,22 milhões.
E em Minas, como é que ficou? Bem, o candidato ao governo foi o tucano Antonio Anastásia. Levou o troféu com 6,2 milhões de votos de 14 milhões possíveis. Para o Senado, o tucano Aécio Neves conseguiu fantásticos 7,5 milhões. E Serra teve 4,4 milhões de votos. Menos do que o candidato ao governo, menos do que Aécio. Que raio de força Aécio tem, afinal? A força para si mesmo e nada mais.
Aécio conseguiu a proeza de ser o único tucano que teve uma votação fantasticamente maior que a de seu aliado José Serra. Aqui e ali, Serra teve menos votos que seu parceiro local. Mas a proporção sempre foi pequena, nunca teve menos de 80% da votação do seu mais forte chapa na área. Só em Minas Gerais, apenas em Minas Gerais, tão somente em Minas Gerais, Serra ficou com menos de 60% dos votos do cacique tucano. Que raio de aliado é esse, afinal? Não há como dourar a pílula: ou Aécio foi incompetente para transferir seus votos para Serra ou fez corpo mole. De um jeito ou de outro, são números gritantes demais para que qualquer um em sã consciência possa aceita-lo como fator de peso, exceto, claro, se for para o PSDB se tornar refém dele como o PT se tornou de Lula. Mas até nisso eles precisam se parecer?
Não é só. Mesmo com a máquina a seu favor, o candidato tucano ao governo ficou com bem menos votos que Aécio. Minas foi, de novo, o único lugar do país em que houve uma significativa diferença de votos entre o governador eleito e o Senador mais votado. Qualquer Mané sabe ler estes números: Aécio só joga para ele, seja por má fé, seja por incompetência.
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LEIA ABAIXO
Sobre como a iraniana Sakineh pode ser enforcada antes do previsto e como Lula não tem influência alguma sobre o governo iraniana ao contrário do que é dito por aí:
https://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/11/01/sakineh-podera-ser-enforcada-em-poucos-dias/
Sobre a fantástica idéia de Evo Morales de colocar Fidel Castro como Secretário Geral da ONU:
https://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/11/01/morales-quer-fidel-na-onu/
Sobre como um mesmo fato pode ser noticiado de diferentes formas:
https://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/11/01/a-travessia-da-galinha/
Sobre o absurdo de se censurar Monteiro Lobato e quem está propondo tal sandice:
https://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/10/29/querem-censurar-monteiro-lobato/
Sobre o lobista que diz que Dilma o ajudou no caso dos correios:
https://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/10/29/lobista-diz-que-dilma-o-ajudou-no-caso-dos-correios/
Sobre declaração dada por Dilma Roussef em 28/10/2010 se colocando contra a prisão de quem pratica o aborto:
https://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/10/28/em-28102010-dilma-declarou-publicamente-ser-contra-a-prisao-de-quem-pratica-o-aborto/
Sobre o regime pelo qual Dilma Roussef e Franklin Martins orgulhosamente pegaram em armas:
Sobre o cancelamento da entrevista com Serra pelo SBT e um negócio de R$ 7 bilhões de Sílvio Santos com o governo federal: